Bactéria encontrada no Mandacaru é usada para reduzir perda de milho por falta de chuva
A irregularidade das precipitações no semiárido trouxe prejuízo para a cultura dos grãos

“Plantei dois hectares de milho divido entre as terras altas e baixas e perdi uns trinta por centro porque faltou chuva no começo de março”. O relato é do agricultor de base familiar Francisco Ferreira, do distrito de José de Alencar, zona rural de Iguatu. Mesmo tendo sido observado um acumulado 10,9% acima do esperado na atual quadra chuvosa, a irregularidade espacial e temporal das chuvas no município provoca perdas do plantio de culturas de sequeiro.
O que ocorreu com o produtor rural é um impacto comum à produção agrícola brasileira e em particular ao sertão nordestino. E uma das culturas mais afetadas é o milho, que sofre com a falta de água.
A boa notícia é que a perda do grão por veranicos (períodos curtos de seca) deverá ser reduzida nos próximos anos, graças à criação de um novo bioinsumo, desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente (unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) a partir de uma planta comum no sertão nordestino, o mandacaru.
Uma bactéria encontrada na rizosfera do cacto tão comum na região da Caatinga (Cereus jamacaru), vai ajudar as lavouras de milho brasileiras a suportar a seca, assegura os pesquisadores.
A rizobactéria "Bacillus aryabhattai" é a base do novo bioinsumo que aumenta a resiliência e a capacidade de adaptação das plantas do cereal ao estresse hídrico. O produto recebeu o nome comercial de Auras e, segundo os desenvolvedores, é capaz de promover o crescimento do grão mesmo em condições de seca.
A Embrapa Meio Ambiente pontua que o produto é capaz de reduzir os efeitos causados pelas estiagens prolongadas, minimizando riscos e expressando o potencial das lavouras.
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PESQUISA
Foram 12 anos de pesquisa por técnicos da empresa que resultaram no desenvolvimento de uma tecnologia inovadora e a fabricação do produto, um inoculante que chega ao mercado graças à parceria público-privada com uma empresa de Minas Gerais.
Inicialmente, o produto destina-se à cultura do milho, que “é uma das mais atingidas por veranicos e restrições hídricas em geral”, como lembra o agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Kléber Correia.
Os técnicos esclarecem que o bioinsumo não resulta no aumento de produção, mas protege a lavoura de perdas ocasionadas por escassez de água. “Confere um maior desenvolvimento radicular e mitiga efeitos do estresse hídrico na cultura”, frisou Cláudio Nasser, diretor da NOOA Ciência e Tecnologia Agrícola, parceira da Embrapa Meio Ambiente.
A estimativa inicial é que o produto salve da seca entre 360 quilos a 480 quilos do grão, por hectare, em média, contra um investimento que gira ao redor de 25 kg de milho por hectare.
“A intenção é ampliar o uso do produto para outras culturas, como soja e trigo”, ressaltou o pesquisador da Embrapa, Itamar Soares de Melo, que desenvolveu a pesquisa com a rizobactéria da qual derivou o novo bioativo. “Por enquanto, só existe essa pesquisa sobre essa tecnologia em agricultura tropical, que é a que sofre maior impacto da seca”.
Para o chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Marcelo Morandi, “a tecnologia é o resultado de muitos anos de pesquisa na seleção de microrganismos com características de interesse para a agricultura e da parceria com uma empresa que vislumbrou esse futuro e agora torna o produto acessível ao produtor”.
Para a empresa parceira, a nova tecnologia deverá ser adotada em 1% da área plantada de milho no País durante o primeiro ano, mas a expectativa é de crescimento do uso do produto. “Pretendemos atingir 10% dessa área em cinco anos,” prevê o presidente da empresa, Claudio Nasser.
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